Sigmund Freud

Freud nasceu em uma família judaica, na cidade de Freiberg in Mähren, na época pertencente ao Império Austríaco, atualmente denominada Příbor, na República Checa. Iniciou seus estudos pela utilização da técnica da hipnose no tratamento de pacientes diagnosticados, à época, com histeria, como forma de acesso aos seus conteúdos mentais. Ao observar a melhora dos pacientes tratados pelo médico francês Charcot por meio da hipnose, Freud elaborou a hipótese de que a causa da histeria era de ordem psicológica, e não orgânica. Tal hipótese serviu de base para outros conceitos desenvolvidos por Freud, como o do inconsciente.

Freud também é conhecido por suas teorias do complexo de édipo e da repressão psicológica e por criar a utilização clínica da psicanálise como tratamento das psicopatologias, através da escuta do paciente. Freud acreditava que o libido era a energia motivacional primária da vida humana. Sua obra fez surgir uma nova compreensão do ser humano, como um animal dotado de razão imperfeita e influenciado por seus desejos e sentimentos. Segundo Freud, a contradição entre esses impulsos e a vida em sociedade gera, no ser humano, certos tormentos psíquico. Ele tinha uma visão biopsicossocial do ser humano. Fatos como a descrição de pacientes curados através do diálogo por Josef Breuer e a morte do colega Ernst von Fleischl-Marxow por overdose do antidepressivo da época, a cocaína, levaram-no ao abandono das técnicas de hipnose e a descartar o uso medicamentoso de drogas em detrimento a um novo método: a cura pela fala, ou seja, a psicanálise. Para isso utilizou a interpretação de sonhos e a livre associação como vias de acesso ao inconsciente.

Suas teorias e seus tratamentos clínicos foram controversos na Viena do século XIX, e continuam a ser muito debatidos até hoje. A despeito de sua grande influência, Freud sofreu críticas de diversas natureza, sendo constante alvo de críticas dos mais variados espectros políticos, de diversas vertentes religiosas e de confrontações de cunho propriamente científico-epistemológico. Contudo, a psicanálise de Freud segue se desenvolvendo através de estudos e práticas clínicas na área, com a contribuição de teóricos e clínicos que o sucederam. Alguns de seus herdeiros intelectuais criaram suas próprias teorias, mas sempre com base nos pressupostos intrínsecos colocados por Freud, como a noção de inconsciente e transferência.

Em suas teorias, Freud afirma que os pensamentos humanos são desenvolvidos por processos diferenciados, relacionando tal ideia à de que o nosso cérebro trabalha essencialmente no campo da semântica, isto é, a mente desenvolve os pensamentos num sistema intrincado de linguagem baseada em imagens, as quais são meras representações de significados latentes. Em diversas obras, como “A Interpretação dos Sonhos”, “A Psicopatologia da Vida Cotidiana” e “Os Chistes e suas Relações com o Inconsciente”, Freud não só desenvolve sua teoria sobre o inconsciente da mente humana, como articula o conteúdo do inconsciente ao ato da fala, especialmente aos atos falhos. Para Freud, a consciência humana subdivide-se em três níveis: consciente, pré-consciente e inconsciente. O primeiro contém o material perceptível; o segundo, o material latente, mas passível de emergir à consciência com certa facilidade; e o terceiro contém o material de difícil acesso, isto é, o conteúdo mais profundo da mente, que está ligado aos instintos primitivos do homem.

Os níveis de consciência estão distribuídos entre as três entidades que formam a mente humana, ou seja, o Id, o Ego e o Superego.

Segundo Freud, o conteúdo do inconsciente é, muitas vezes, reprimido pelo Ego. Para driblar a repressão, as ideias inconscientes apelam aos mecanismos definidos por Freud em sua obra “A Interpretação dos Sonhos”, como deslocamento e condensação. Estes dois, mais tarde, seriam relacionados por Jacobson à metonímia e metáfora, respectivamente.

Portanto, as representações de ideias inconscientes manifestam-se nos sonhos como símbolos imagéticos, tanto metafóricos quanto metonímicos. Aplicando o conceito à fala, o inconsciente consegue expelir ideias recalcadas através dos chistes ou atos falhos. Freud propõe que as piadas ou as “trocas de palavras por acidente” nem sempre são inócuas. Antes, são mecanismos da fala que articulam ideias aparentes com ideias reprimidas, são meios pelos quais é possível exprimir os instintos primitivos.

Deste modo, Freud cria uma inter-relação entre os campos da linguística e da psicanálise, que será retomada por estudiosos posteriores, como Jacques-Marie Émile Lacan.

Freud foi inovador. Simultaneamente, desenvolveu uma teoria da mente e da conduta humana, e uma técnica terapêutica para ajudar pessoas afetadas psiquicamente. Alguns de seus seguidores afirmam estar influenciados por um, mas não pelo outro campo.

Provavelmente a contribuição mais significativa que Freud fez ao pensamento moderno é a de tentar dar, ao conceito de inconsciente, um status científico (não compartilhado por várias áreas da ciência e da psicologia). Seus conceitos de inconsciente, desejos inconscientes e repressão foram revolucionários; propõem uma mente dividida em camadas ou níveis, dominada em certa medida por vontades primitivas que estão escondidas sob a consciência e que se manifestam nos lapsos e nos sonhos.

Em sua obra mais conhecida, A Interpretação dos Sonhos, Freud explica o argumento para postular o novo modelo do inconsciente e desenvolve um método para conseguir o acesso ao mesmo, tomando elementos de suas experiências prévias com as técnicas de hipnose.

Como parte de sua teoria, Freud postula também a existência de um pré-consciente, que descreve como a camada entre o consciente e o inconsciente  (o termo subconsciente é utilizado popularmente, mas não é parte da terminologia psicanalítica). A repressão em si tem grande importância no conhecimento do inconsciente. De acordo com Freud, as pessoas experimentam repetidamente pensamentos e sentimentos que são tão dolorosos que não podem suportá-los. Tais pensamentos e sentimentos (assim como as recordações associadas a eles) não podem ser expulsos da mente, mas, em troca, são expulsos do consciente, para formar parte do inconsciente.

Embora, ao longo de sua carreira, Freud tenha tentado encontrar padrões de repressão entre seus pacientes que derivassem em um modelo geral para a mente, ele observou que pacientes diferentes reprimiam fatos diferentes. Observou, ainda, que o processo da repressão é, em si mesmo, um ato não consciente (isto é, não ocorreria através da intenção dos pensamentos ou sentimentos conscientes). Em outras palavras, o inconsciente era tanto causa como efeito da repressão.

A influência de Freud pode ser observada ainda em diversos outros campos do conhecimento e até mesmo na cultura popular, inclusive no uso cotidiano de palavras que se tornaram recorrentes, mas que surgiram a partir de suas teorias. Expressões como “neurose”, “repressões”, “projeções” popularizaram-se a partir de seus escritos.

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