Haftará: Jeremias 34:8 – 22
Brit Chadashá: Mateus 5:38 – 42
Mishná Yoma: Shavuot 3:2-3 a 4:3-4
Segundas e Quintas:
10 p’sukim
10 p’sukim
18 p’sukim
Êxodo 21:1 – 24:18
Nessa Parashá, o povo judeu recebe uma série de leis relativas à Justiça Social. Essas leis incluem as obrigações do marido para com a esposa, pagamentos por roubo, responsabilidades financeiras, leis sobre escravos, e sobre indenizações devido a agressões e acidentes entre pessoas, entre um animal e uma pessoa e em relação a animais. Leis sobre indenizações em caso de incêndio. Leis sobre crime sexual e relações proibidas. Leis sobre penhor, etc. A Torah conclui a lista com as leis de Kashrut. O povo diz “Naasseh Venishmah” ( faremos e ouviremos ). Moshe sobe a montanha por 40 dias para receber as Tábuas da Lei.
A Parashá da semana passada nos ensinou sobre a importância e o conceito de “limpar as vestes” – Pensamento, fala e ação. Estas são as vestes da alma. Compreendemos agora com mais clareza os seguintes ditos de Yeshua. “Raça de víboras, como podem vocês, que são maus, dizer coisas boas? Pois a boca fala do que está cheio o coração.” – Ou seja, a boca falará somente daquilo que há dentro da mente (coração), assim como a pessoa agirá, tomará decisão baseada naquilo que está em sua mente (coração).
“Mas eu digo que, no dia do juízo, os homens haverão de dar conta de toda palavra inútil que tiverem falado.” – A fala não é apenas algo supérfluo, a fala tem o poder de criar, da mesma forma que o Eterno criou todas as coisas por meio da Palavra. Pois por suas palavras vocês serão absolvidos, e por suas palavras serão condenados”. – Sendo assim, consideremos as nossas palavras de igual ou mais peso que a própria ação tendo sempre a consciência de tudo vem da mente (coração).
Agora, após a limpeza da vestes da alma, somos como uma casa vazia, limpa e que há de ser habitada seja pelo Ruach HaCodesh ou por Shedim (demônios). Por isso, o Eterno tirou o povo do Egito, o disciplinou e ordenou que se purificarem para receber a Torah e todas as ordenanças ( Mishpatim ) – pois a casa não pode ficar vazia ou virará morada de demônios novamente conforme o Mestre disse;
“”Quando um espírito imundo sai de um homem, passa por lugares áridos procurando descanso. Como não o encontra, diz: ‘Voltarei para a casa de onde saí’. Chegando, encontra a casa desocupada, varrida e em ordem.
Então vai e traz consigo outros sete espíritos piores do que ele, e, entrando, passam a viver ali. E o estado final daquele homem torna-se pior do que o primeiro. Assim acontecerá a esta geração perversa”.
Autor – Rav. Yehoshua Sh’lomo
FAREMOS E OUVIREMOS
Duas palavras que lemos ao final da nossa parashá – naassê vê nishmá, “Faremos e ouviremos” – estão entre as mais famosas no Judaísmo. São aquelas que nossos ancestrais disseram quando aceitaram o pacto no Sinai. Elas estão no maior contraste possível às reclamações, pecados, erros e rebeliões que parecem marcar grande parte da narrativa da Torá sobre os anos no deserto.
Há uma tradição no Talmud que D’us teve de suspender a montanha sobre a cabeça dos israelitas para persuadi-los a aceitar a Torá. Mas nosso versículo parece sugerir o oposto, que os israelitas aceitaram o pacto voluntariamente e com entusiasmo. Então [Moshê] pegou o Livro do Pacto e o leu para o povo. Eles responderam: “Faremos e ouviremos [naassê vê nishmá] tudo que o Eterno disse.” {Shemot 24:7). Com base nisso, desenvolveu-se uma tradição contrária, que ao dizer essas palavras, os israelitas reunidos ascenderam ao nível dos anjos.
Rabi Simlai disse, quando os israelitas se apressaram a dizer “Faremos” antes de dizer “Ouviremos”, sessenta miríades de anjos ministrantes desceram e colocaram duas coroas sobre cada pessoa em Israel, uma como recompensa por dizer “Faremos” e a outra como recompensa por dizer “Ouviremos”. Rabi Eliezer disse, quando os israelitas se apressaram para dizer “Faremos” antes de dizer “Ouviremos”, uma voz Divina veio e disse: Quem revelou aos Meus filhos este segredo que somente os anjos ministrantes fazem uso?
O que, no entanto, as palavras realmente significam? Naassê é direto em frente. Significa “Faremos”. É sobre ação, comportamento, ato. Mas os leitores da minha obra saberão que a palavra nishmá é nada além de claro. Poderia significar “Ouviremos”. Mas também poderia significar “Obedeceremos”. Ou poderia significar “Entenderemos”. Essas sugerem que há mais de uma maneira de interpretar naassê vê nishmá. Aqui seguem algumas:
Significa: “Faremos e então ouviremos.” Essa é a opinião do Talmud {Shabat 88 a) e Rashi. As pessoas expressaram sua fé total em D’us. Elas aceitaram o pacto antes mesmo de ouvirem seus termos. Elas disseram “faremos” antes de saberem o que era que D’us queria que fizessem. Esta é uma bela interpretação, mas depende de ler Shemot 24 na sequência. Segundo uma leitura direta dos eventos na ordem na qual eles ocorreram, primeiro os israelitas concordaram com o pacto (Shemot 19:8), então D’us revelou a eles os Dez Mandamentos (Shemot 20), então Moshê destacou muitos dos detalhes da lei (Shemot 21-23), e somente então os israelitas disseram naassê vê nishmá, quando eles já tinham ouvido muito da Torá.
“Faremos [aquilo que já nos foi ordenado até agora] e iremos obedecer [todas as ordens futuras].” Esta é a opinião de Rashbam, A declaração dos israelitas assim olhava tanto para trás como para a frente. As pessoas entenderam que estavam numa jornada espiritual bem como numa jornada física e não poderiam saber todos os detalhes da lei de uma só vez. Nishmá aqui significa não “ouvir” mas “considerar, obedecer, responder fielmente de fato.”
“Faremos obedientemente” (Sforno). Sobre visão as palavras na’aseh e nishma são uma retórica, ou sejam uma única ideia expressada por duas palavras. Os israelitas estavam dizendo que fariam o que D’us lhes pedia, não porque buscavam algum benefício mas simplesmente porque procuravam fazer Sua vontade. Ele os tinha salvado da escravidão, protegido e alimentado pelo deserto, e eles queriam expressar sua completa lealdade a Ele como redentor e fazedor da lei.
“Faremos e entenderemos” (Isaac Arama em Akeidat Yitzchak). A palavra shemá pode ter o sentido de “entendimento” como na declaração de D’us sobre a Torre de Babel. “Vamos então, descer e confundir a fala deles ali, para que eles não entendam [yishme’u] um à fala do outro” (Bereshit 11:7). Segundo essa explicação, quando os israelitas colocaram ‘fazer’ antes de ‘entender’, eles estavam dando expressão e uma profunda verdade filosófica. Há determinadas coisas que somente entendemos fazendo. Entendemos liderança apenas liderando. Entendemos autoria somente escrevendo. Entendemos música somente ouvindo ou compondo. Ler livros sobre essas coisas não é suficiente.
Assim é com a fé. Somente entendemos realmente o Judaísmo vivendo de acordo com suas ordens. Você não pode compreender uma fé do lado de fora. Praticar leva ao entendimento. Ficando com essa interpretação, podemos ser capazes de ouvir uma implicação maior e mais importante. Se você olhar cuidadosamente os capítulos 19 e 24 de Shemot verá que os israelitas aceitaram o pacto três vezes. Mas os três versículos nos quais essas aceitações ocorreram são significativamente diferentes:
As pessoas responderam todas juntas: “Faremos [naassê] tudo que o Eterno falou.” (Shemot 19:8).
Quando Moshê foi e disse ao povo todas as palavras e leis do Eterno, eles responderam a uma só voz: “Tudo que o Eterno disse faremos [naassê].” (Shemot 24:3).
Então Moshê pegou o Livro do Pacto e o leu para o povo. Eles responderam: “Faremos e ouviremos [naassê vê nishmá] tudo que o Eterno disse.” (Shemot 24:7).
Somente a terceira dessas contem a expressão naassê vê nishmá. E somente a terceira carece de uma declaração sobre a unanimidade do povo. As outras duas são enfáticas em dizer que as pessoas eram como uma: as pessoas “responderam juntas” e “responderam com uma só voz.” Essas diferenças estão conectadas?
É possível que estejam. No nível de naassê, a ação judaica, somos um.Para ter certeza, há diferenças entre Ashkenazitas e Sefaraditas. Em toda geração há desacordos entre poskim liderantes, autoridades haláchicas. Isso é verdadeiro em todo sistema legal. Pobre é a Suprema Corte que não deixa espaço para opiniões dissidentes. Porém essas diferenças são menores em comparação com a área de concordância sobre os fundamentos da Halachá, a Lei Judaica.
Isso é o que historicamente uniu o povo judeu. O Judaísmo é um sistema legal. É um código de comportamento. É uma comunidade de ação. É onde exigimos consenso. Portando, quando se trata de fazer – naassê – os israelitas falaram “juntos” e “com uma só voz”. Apesar das diferenças entre Hilel e Shammai, Abaye e Rava, Rambam e Rosh, R. Yosef Karo e R. Moshê Isserles, estamos unidos pela coreografia da ação judaica.
No nível da nishmá, entendendo, porém, não somos chamados para ser um. O Judaísmo tem seus racionalismos e suas místicas, seus filósofos e poetas, eruditos cujas mentes estavam firmemente fixadas na terra, e santos cujas almas subiram ao céu. Os rabinos disseram que no Sinai, todos receberam a revelação à sua própria maneira: “E todas as pessoas viram” (Shemot 20:15): os sons dos sons e as chamas das chamas. Quantos sons havia lá e quantas chamas havia lá? Cada um ouvia com seu próprio nível de compreensão aquilo que estavam passando”, e isso é o significado quando diz (Tehilim 29:4) “a voz do Eterno em majestade.
O que une os judeus, ou deveria, é ação, não reflexão. Fazemos as mesmas ações mas as entendemos de modo diferente. Há acordo sobre naassê, mas não sobre nishmá. É isso que Maimônides disse quando escreveu um seu Comentário sobre a Mishná, que “Quando há desacordo entre os Sábios e isso não se refere a uma ação, mas somente no estabelecimento de uma opinião, não é adequado fazer uma lei haláchica em favor de um dos lados.”
Isso não significa que o Judaísmo não tem fortes crenças. A formulação mais simples – segundo Rabi Shimon Ben Zemach Duram e Yossef Albo, e no Século Vinte, Franz Rosenweig – consiste de três crenças fundamentais: em criação, revelação e redenção.] Os 13 princípios de Maimônides elaboram essa estrutura básica.
Criação significa ver o universo como obra de D’us. Revelação significa ver a Torá como a palavra de D’us. Redenção significa ver a história como ação de D’us e chamado de D’us. Mas dentro desses amplos parâmetros, devemos cada um encontrar nosso próprio entendimento, guiados pelos sábios do passado, instruídos pelos nossos mestres no presente, e encontrar nossa própria rota para a presença Divina.
O Judaísmo é uma questão de crença bem como de ação. Mas deveríamos permitir às pessoas a maneira sobre como elas entendem a fé dos nossos ancestrais. Caçar a heresia não é nossa atividade mais feliz. Uma das grandes ironias da história judaica é que ninguém fez mais que o próprio Maimônides para elevar a crença ao nível do dogma halachicamente normativo, e ele se tornou a primeira vítima desta doutrina. Durante sua vida, foi acusado de heresia, e após sua morte seus livros foram queimados. Esses foram episódios vergonhosos.
“Faremos e entenderemos,” significa: faremos da mesma maneira; entenderemos à nossa própria maneira. Eu acredito que ação nos une, deixando-nos espaço para encontrar nosso próprio caminho para a fé.
(Rabino Jonathan Sacks z”l)