Os Quatro Filhos do Seder de Pessach:
Quatro Caminhos, Uma Só Mesa

A noite do Seder de Pessach é um encontro de gerações, memórias e identidade. É quando o povo judeu relembra sua saída da escravidão do Egito e afirma, mais uma vez, que somos parte viva dessa história.

Entre os elementos mais marcantes do Maguid (a parte da Hagadá onde se narra a saída do Egito), estão os quatro filhos: o sábio, o perverso, o simples e o que não sabe perguntar. Cada um deles representa um tipo de pessoa e todos têm lugar à mesa. Porque além da mensagem literal, podemos extrair uma lição destas passagens. Os quatro filhos representam as personalidades do ser humano, sendo assim podemos refletir cada um deles em nossas vidas.

A Hagadá se baseia em quatro versículos diferentes da Torá onde se fala da obrigação de ensinar os filhos sobre o Êxodo:

O Sábio“Quando teu filho te perguntar: que são estes testemunhos, estatutos e leis que o Eterno nosso D’us ordenou a vocês?”
(Devarim 6:20)

O Perverso“Quando seus filhos disserem: que é este serviço para vocês?”
(Shemot 12:26)

O Simples“E será que quando teu filho te perguntar, dizendo: o que é isso? Dirás a ele…”
(Shemot 13:14)

O Que Não Sabe Perguntar“E contarás a teu filho naquele dia, dizendo: por isso o Eterno fez por mim quando saí do Egito.”
(Shemot 13:8)

O Sábio (Chacham)

“O que significam os testemunhos, as leis e os preceitos?”

Este filho demonstra interesse profundo. Ele quer saber os detalhes, as razões e os significados. Ele busca a sabedoria da Torah com reverência.

A resposta que damos a ele é cheia de conteúdo e profundidade, incluindo até mesmo as leis de Pessach após a destruição do Templo, como o afikoman.

O filho sábio nos lembra que o conhecimento é uma ponte para a fé, e que devemos ensinar com profundidade àqueles que querem crescer.

 

O Perverso (Rashá)

“O que é esse serviço para vocês?”

Ele se exclui da comunidade ao dizer “para vocês” e não “para nós”. Segundo os sábios, ele corta o vínculo com a tradição e adota uma postura de desprezo.

A Hagadá diz que devemos “embotar seus dentes” e responder com firmeza:

“Foi por causa disso que o Eterno agiu por mim ao sair do Egito – por mim, e não por ele.”

Mesmo quando alguém rejeita, ele continua na mesa. Sua presença nos desafia a refletir sobre o valor da identidade coletiva e sobre como acolher sem condescendência.

 

O Simples (Tam)

“O que é isso?”

Sua pergunta é curta, mas sincera. Ele quer entender, mas ainda está em estágios iniciais de compreensão; como é a realidade de muitos de nós, quando chegamos ao judaismo.

A resposta é direta e afetuosa:

“Com mão forte nos tirou o Eterno do Egito.”

Nem todo mundo precisa de uma explicação filosófica. Às vezes, uma resposta direta, com calor humano, é o suficiente para despertar a conexão com D’us e com o povo.

O Que Não Sabe Perguntar (She’aino Yodêa Lishol)

Este filho não sabe por onde começar. Seja por falta de conhecimento, vergonha, trauma ou imaturidade, ele precisa de um gesto ativo.

Por isso, a Torá diz: “Você deve abrir para ele.”

A responsabilidade do educador é abrir o diálogo. Não podemos esperar que todos saibam perguntar. Devemos proporcionar um ambiente seguro e amoroso, onde até quem está em silêncio possa florescer.

 A Hagadá não elimina nenhum dos filhos. Todos têm lugar. Porque o verdadeiro povo de Israel não é feito de perfeição, mas de vínculo, paciência e educação contínua.

Pessach nos ensina que ser livre é também saber ouvir e ensinar, com respostas diferentes para filhos diferentes — mas com o mesmo amor e o mesmo destino comum.

 

“Muitos comentaristas, como o Rebe de Lubavitch, falam de um quinto filho: aquele que nem está na mesa. Ele não participa do Seder, não pergunta, não escuta. A mitzvá de Pessach também é ir ao encontro dele. Resgatar, acolher, convidar. Afinal, a saída do Egito foi coletiva. Ele não aparece na Hagadá tradicional, mas foi apresentado pelo Rebe em diversas cartas e discursos públicos, especialmente nos ensaios de Pessach endereçados aos judeus do mundo inteiro após a Shoá (Holocausto), durante os anos 1950 e 1960.”

Carta do Rebe para Pessach – Nissan 5717 (1957)
Igrot Kodesh (vol. 15, carta 5674),Likutei Sichot vol. 3, p. 997-998 (Pessach)

Search

Categorias

Cultura judaica

Nosso endereço

Rua Ametista 40 —
Jardim dos Camargos – Barueri
São Paulo – SP

secretariado@
sinagogaemunahshlemah.com.br

+55 11 9 1760-0104

© 2025 Sinagoga Emunah Shlemah. Todos os direitos reservados.