O que é Tefilá? O Trabalho do Coração

Um elemento chave do seu relacionamento com o Criador é “servir a Ele de todo o coração”.

A palavra servir em hebraico é avodah, que encerra o sentido de trabalho laborioso. Mas que tipo de trabalho pode servir a D’us? A clássica resposta judaica é que tefilá é isto: um trabalho para despertar o amor oculto dentro do coração até ser atingido um estado de união íntima com o divino.

É por isso que a tradução comum – prece – é bastante imprecisa. A prece implica duas entidades distintas, uma inferior fazendo um pedido à superior. Há uma outra palavra hebraica para isto: bakashá. Similarmente, adoração tem uma palavra: shevach. A tefilá inclui esses dois elementos, mas não é nenhum deles. Em vez disso, comunhão pode ser uma palavra melhor – definida como uma junção de mente e espírito.


Como faço isso?

A qualquer hora em que você compartilha com o Criador aquilo que está no seu coração – seja rezando, abençoando, lamentando ou pedindo – você está davening. Pode acontecer a qualquer hora, em qualquer lugar, desde que venha das genuínas preocupações do coração e da consciência da mente sobre uma presença mais elevada.

Tradicionalmente, além de falarem com D’us sempre que sente necessidade, os judeus rezam três vezes ao dia – e se possível, em conjunto. Quando os judeus foram exilados para a Babilônia, os Homens da Grande Assembleia viram que a geração mais jovem queria falar com D’us como tinha visto seus pais e mães fazerem, mas não conseguiam encontrar as palavras. Então eles institucionalizaram esta prece/bênção/lamento/pedido num liturgia formal.

A tefilá matinal é chamada Shacharit, a da tarde Minchá, e a tefilá noturna Maariv. A tefilá da manhã é a mais longa, Shacharit durante a semana leva de 40 a 90 minutos, dependendo do dia e da dedicação daqueles envolvidos.

A estrutura da Shacharit é projetada para que você se eleve na “escada da tefilá” para um estado de reverência, amor e inspiração, desde que nela seja investido o trabalho de kavanah – concentrando mente, coração e alma nas palavras que está dizendo e, acima de tudo, na Presença Maior a quem as palavras são dirigidas.

O que faço com isso?

Embora a tefilá expresse as preocupações mais íntimas da pessoa, um judeu geralmetne se conecta a D’us de forma comunal. A unicidade abaixo é a melhor maneira de conseguir a atenção da Unicidade acima.

Os homens, em especial, devem recitar suas tefilot sempre que possível num quorum de dez – chamado minyan. O protocolo é muito populista e participativo, rico com rituais de identidade que servem para unir o grupo.

As mulheres não são obrigadas a frequentar tefilot comunitárias, e portanto suas tefilot podem ser mais pessoais. Apesar disso, o local e o tempo da tefilá comunitária é considerado especial para conseguir a aceitação da tefilá.

Por que não apenas meditar?

Você não pode comungar com alguém que não conhece, portanto conhecer D’us é uma parte integrante da tefilá. O Talmud nos diz sobre aqueles que meditavam durante uma hora antes da tefilá. O Código da Lei Judaica prescreve ponderar sobre “a grandeza de D’us e a pequenez do homem” antes de cada tefilá. 

Apesar disso, o consenso haláchico é que a boca também deve estar engajada. Dois motivos:

1 – Pronunciar as palavras em voz alta ajuda a concentrar sua atenção.

2 – Um ser humano é principalmente um ser falante. A tefilá leva a fala daquela pessoa mais perto de D’us. Se você elevar seu coração e sua mente mas deixar para trás as suas palavras, está na verdade deixando para trás o ser humano.

Tefilá, Torá, Mitsvá

Descrevemos a mitsvá de maneira semelhante à tefilá – como uma conexão. Similarmente, a Torá foi descrita como uma partilha da mente. A tefilá é única no sentido de que a sua conexão se move na direção ascendente, enquanto mitsvá e Torá são principalmente de cima para baixo.

Embora façamos nossa contribuição com engenhosidade e criatividade próprias, o estudo de Torá é principalmente um estudo da sabedoria de D’us. Apesar de contribuirmos com nosso foco e inspiração, bem como muitos atos e costumes rabínicos, para o cumprimento das mitsvot, uma mitsvá essencialmente significa Sua vontade, e não a nossa. A ênfase da tefilá, por outro lado, é o nosso movimento na direção Dele, expressando nossos pensamentos e sentimentos numa maneira que eles se tornam um ato divino.

Outro paradigma: O ser humano tem três modus operandi, ou seja, ação, fala e pensamento. As mitsvot ocupam principalmente nossa modalidade de ação, enquanto a Torá está mais preocupada com a fala – articulando os pensamentos de D’us em palavras humanas. O âmago da tefilá, por outro lado, é nosso modo de atingir mais profundamente nossos pensamentos interiores, e encontrar dentro deles o próprio D’us.


A prece é uma mitsvá


A Torá ordena que rezemos a D’us ao exortar-nos “a servi-Lo” (10:20), e novamente, “a servi-Lo de todo o coração” (1:13).

A obrigação mínima diária é formular com suas próprias palavras um pedido e endereçá-lo a D’us.

Nossos Sábios instituíram três preces diárias – shacharit, minchá e Arvit (ma’ariv).  Entretanto, se involuntariamente a pessoa é impedida de cumprir sua obrigação, deve pelo menos cumprir a obrigação mínima diária de suplicar a D’us.

A mitsvá de rezar nos beneficia de duas maneiras:

  • Faz com que o Todo Poderoso escute e, se Ele a considera justa, concede seu pedido.
  • Além disso, força-nos diariamente a reafirmar em nossa mente que D’us é Todo Poderoso e por isso capaz de conceder todos nossos pedidos. Por isso nossas tefilot nos elevam espiritualmente.

Da mesma forma, uma mulher incapaz de rezar formalmente por estar atarefada cuidando das necessidades da família, deve pelo menos cumprir os requisitos básicos: uma vez ao dia fazer um pedido a D’us em qualquer idioma, reconhecendo assim que Ele é o onipotente Criador do Universo.

É correto que uma pessoa entenda o significado das palavras que está rezando.

Entretanto, as preces de um judeu que nunca aprendeu o significado de suas preces, ou alguém que não aprendeu a ler corretamente em hebraico são aceitas, desde que sejam ditas leshaim shamayim, com temor aos céus (a D’us). O seguinte Midrash confirma esse ponto:

D’us disse: “Se um judeu não recebeu uma boa educação judaica e por isso lê errado: Amarás ao Senhor teu D’us como Serás hostil a Ele, eu aceitarei suas palavras, desde que venham do coração. Se crianças em idade escolar, que ainda não dominam a Torá, pronunciarem ‘Moshê’ como ‘Mashê’ – ‘Aharon’ como ‘Aharan,’ ou ‘Efron’ como ‘Efran,’ [antigamente escolares aprendiam sem os pingos que servem como vogais], mesmo assim Eu aceitarei as palavras com amor.”

D’us julga cada pessoa de acordo com sua capacidade e as oportunidades que teve na vida.
Qual o significado do versículo: “Tu, que escuta as preces, perante quem vem toda carne?”
Isto nos ensina que após todas as congregações de judeus terem terminado de rezar, o anjo encarregado das preces reúne todas suas tefilot, tece-as em forma de coroa, e a coloca sobre a cabeça de D’us.

O versículo citado anteriormente ensina ainda que D’us escuta simultaneamente as preces de todos os seres humanos. Um ser humano pode concentrar-se apenas em uma conversa por vez, mas D’us escuta todas as preces juntas.

Além disso, o versículo sugere que D’us aceita as preces de toda a carne igualmente, não importa sua posição ou situação material – sejam eles homens ou mulheres, homens livres ou escravos, milionários ou mendigos.

O infortúnio não deve ser o único estímulo para a prece. A pessoa deve rezar quando as coisas vão bem, para prevenir que as más aconteçam. Uma vez que a pessoa está doente, necessita de grandes méritos para ficar bom novamente.

As tefilot tornam-se uma “coroa” porque os judeus, em suas preces, proclamam que D’us é o Rei do Universo (Yefai Toar). De acordo com este Midrash, a palavra significa “jóia,” conforme se encontra em Yeshayáhu, 49:8.

Moshê reitera que os judeus conquistarão Erets Yisrael e terão prosperidade somente se guardarem a Torá.

Moshê continua a enfatizar que os judeus conquistarão Erets Yisrael apenas se estudarem e cumprirem a Torá.

Ele conclamou o povo: “Considerem minhas palavras! Terão sucesso na conquista apenas se cumprirem a Torá. Escutem-me! Muitos de vocês testemunharam pessoalmente como D’us puniu em público aqueles que transgrediram Sua vontade: realizando maravilhas no Egito, destruiu o exército do faraó que os perseguia, e fez com que a terra engolisse Dasan, Aviram, suas famílias e propriedades.

“Após chegar em Erets Yisrael, terão que ser especialmente cuidadosos no cumprimento das mitsvot. Caso contrário, D’us não lhes enviará chuva (como será explicado no próximo capítulo).

O cumprimento das mitsvot em Erets Yisrael requer meticulosidade, pois os olhos de D’us estão constantemente voltados para a Terra; Ele a supervisiona com cuiddado especial. (Embora ele vigie todos os países do mundo, Ele o faz indiretamente, via Erets Yisrael.) Por isso em Erets Yisrael, o Palácio de D’us, seja muito cuidadoso no cumprimento das mitsvot, para que Sua ira não seja despertada.

Moshê concluiu: “D’us os privilegiou, Sua nação amada, a entrar na querida Terra para lá cumprirem Seus mandamentos, como disse (Tehilim 105:44-45): ‘E Ele lhes deu as terras das nações e deixou-os herdar o trabalho do povo (as casas construídas pelos canaanitas, as vinhas e os pomares de oliveiras que plantaram) para que pudessem estudar Suas leis e cumprir Suas mitsvot.

Por que há tantas advertências a respeito deste detalhe?

É lógico assumir que o estudo de Torá atrasaria os preparativos para uma conquista militar. Moshê, por esta razão, enfatizou novamente que para o povo judeu o oposto é verdadeiro: apenas estudando Torá e cumprindo as mitsvot, D’us lhes dará a força necessária para saírem vitoriosos. (Or Haachaim).

Devo Rezar em Hebraico?

 
Pergunta: Todas as orações na minha sinagoga são em hebraico e não entendo uma palavra do que estamos dizendo. Em primeiro lugar, por que rezamos em hebraico? É melhor eu rezar em hebraico, que não entendo, ou português para entender o que estou falando?


A resposta simples:
O hebraico é o idioma oficial das rezas. Mas a tefilá requer compreensão. Portanto, se você entende o significado das palavras que está dizendo, reze em hebraico. Caso contrário, reze no idioma que você entende – até aprender hebraico.


A resposta mais longa:
Sim, o Shemá, a Amidá e praticamente todas as orações são recitadas em hebraico – mesmo em sinagogas onde a maioria dos frequentadores é muito mais fluente em outras línguas. Por que é isso?

  1. Quando o Talmud  aborda a discussão sobre rezar em aramaico em vez de hebraico, afirma que os anjos não entendem aramaico. E como precisamos que os anjos levem as nossas orações ao alto, devemos rezar numa linguagem que eles entendam. (este é um assunto para um outro artigo).
  2. O hebraico é chamado de Lashon HaKodesh, (Língua Sagrada). De acordo com Nachmânides  seu caráter especial é expresso no fato de ser a linguagem escolhida por D’us para revelar-Se aos profetas. 
  3. As preces foram escritas em hebraico. Como diz o ditado, “não existe tradução precisa”. Mesmo a melhor tradução não consegue transmitir toda a beleza e intenção do original. Quando alguém reza em hebraico, tem a certeza de que está rezando exatamente como nossos profetas e sábios pretendiam.

Portanto, rezar em hebraico tem muitas vantagens sobre outras línguas. Mas e se você não souber hebraico? Você pode rezar em outros idiomas?

Quanto ao Shemá, há uma disputa no Talmud. Rabino Yehudah opina que deve-se recitá-lo no original hebraico como está escrito na Torá. A maioria dos sábios, entretanto, determina que alguém pode lê-lo em qualquer idioma que entenda. A Halachá segue a maioria, e alguém pode recitar Shemá em sua própria língua – desde que enuncie as palavras de forma clara e articulada. 

Todos concordam que a Amidá pode ser recitada em qualquer idioma. Como isso se enquadra na regra acima mencionada de que os anjos não entendem outras línguas? O Talmud  qualifica isso, dizendo que a assistência dos anjos só é necessária para quem reza sozinho. Contudo, a reza de uma congregação é tão potente que não necessita da assistência dos anjos para ser ouvida por D’us.

Então, que tal alguém não entender hebraico e rezar sozinho?

O Código da Lei Judaica  traz mais duas qualificações:

  1. O Talmud pode ter se referido apenas a uma situação em que alguém pede a D’us que atenda às suas necessidades específicas. Ao fazer a reza padrão que todos os judeus fazem, todos os idiomas são aceitáveis.
  2. O Talmud menciona especificamente o aramaico. No entanto, todos os outros idiomas podem ser aceitáveis.

Resumindo, é preferível aprender hebraico e rezar nessa língua. Mas se você não entende o que está dizendo, pronuncie na língua que você entende.

Então agora sabemos que você tem permissão para falar as rezas em seu próprio idioma, caso não entenda hebraico. Mas você pode rezar em hebraico mesmo sem entender?

Compreender o que você está dizendo é essencial para o ato de rezar. Maimônides  escreve que a oração sem concentração não é considerada oração. Afinal, a prece não é simplesmente uma questão de proferir palavras. Ela é chamada de “serviço do coração”. “Você pode falar todas as palavras em hebraico, mas não cumpriu a mitsvá da reza – porque como seu coração pode se expressar com palavras que você não entende?

A melhor solução, obviamente, é começar a aprender hebraico. Se você nunca começar a ler hebraico, nunca aprenderá. Portanto, sugiro que você comece com apenas algumas linhas que aprendeu a entender e expanda lentamente seu repertório. Adicione uma bênção de cada vez. Antes que perceba, você terá dominado toda a Amidá e muito mais.

Embora seja necessário compreender e prestar atenção a toda a reza, o foco mental é mais vital durante a primeira linha do Shemá, a bênção de abertura da Amidá, e a linha do Ashrei, onde dizemos: “Você abre a mão e satisfaz o desejo de todos os seres vivos.” Se você pronunciar qualquer uma das outras partes da reza enquanto estava distraído, não precisa voltar atrás e repeti-las. Com essas partes citadas acima, entretanto, você tem que voltar e repeti-las. 

Portanto, pode fazer sentido aprender primeiro o significado dessas partes da reza e começar outras com o hebraico antes de saber completamente o que elas significam.

Ao incluir o hebraico em sua tefilá, você pode começar com aqueles parágrafos que a congregação canta junto. As melodias e ritmo das rezas geralmente são mais fáceis de aprender e recitar do que lutar sozinho com as palavras!

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