O conceito de *guemilut chassadim* – atos de bondade e altruísmo – ocupa um lugar central no Judaísmo. Tanto Yeshua quanto Rambam demonstraram esse princípio em suas respectivas épocas por meio da cura de enfermos, unindo corpo e alma em suas abordagens.
Yeshua e a Cura no Shabat
Nos relatos da Brit Chadashá, Yeshua frequentemente curava em dias de Shabat, exemplificando que o bem-estar do ser humano supera restrições ritualísticas. Um exemplo é o episódio em que Ele cura um homem com a mão atrofiada (Lucas 6:6-10). Perante a crítica dos fariseus, Yeshua responde: “É lícito no Shabat fazer o bem ou o mal? Salvar uma vida ou destruí-la?” (Lucas 6:9). Esse ensinamento não apenas destaca a importância de salvar vidas, mas também aponta para a cura espiritual, frequentemente acompanhada por uma orientação como: “Vá e não peques mais” (João 8:11).
A abordagem de Yeshua reflete o princípio tálmudico de que “a salvação de uma vida suplanta o Shabat” (Yoma 85b), unindo o cuidado físico ao espiritual. Ele compreendia que a cura física traz também renovação para a alma, permitindo que o indivíduo retorne a uma vida de retidão e conexão com o Criador.
Rambam: Medicina com Almas e Corpos
Maimônides, o Rambam, seguiu esse mesmo princípio em sua vida como médico. Ele baseava suas práticas em ensinamentos da Torá e do Talmud, reconhecendo que a medicina não é apenas um ato físico, mas também espiritual. Rambam ensinava que “a alma e o corpo são indivisíveis” e que “as boas virtudes complementam os remédios”. Ele via a cura como uma mitsvá, e considerava pecaminoso negligenciar o corpo ou a saúde, pois isso causava sofrimento à alma.
Em suas cartas, Rambam descreve sua rotina como médico ao Sultão e a muitas outras pessoas. Após o shacharit, ele atendia seus pacientes, judeus e gentios, até a noite, quase sem pausa. Mesmo exausto, ele dedicava o Shabat para estudar com a comunidade e fornecer orientações de saúde. Seu exemplo demonstra como o amor ao próximo e o compromisso com o bem-estar físico e espiritual de cada pessoa eram centrais em sua vida.
O que une ambos, Yeshua e Rambam exemplificaram o princípio judaico de valorizar a vida e buscar a harmonia entre corpo e alma. Enquanto Yeshua, ao curar, também buscava restaurar o indivíduo espiritualmente, Rambam enfatizava que a saúde espiritual e emocional eram indispensáveis para a cura física. Ambos são exemplos de como o Judaísmo transcende o material e une a fé às ações concretas em prol do próximo.
Concluímos portanto, seja nas curas milagrosas de Yeshua ou nos cuidados meticulosos de Rambam, vemos a expressão de guemilut chassadim. Ambos demonstraram que cuidar do próximo é uma manifestação dos valores eternos da Torá, revelando a dimensão divina que permeia cada ato de bondade.
A Prece do Médico
Atribuída a Maimônides:
“Eterno Criador, Tu moldaste o corpo humano com uma sabedoria incomensurável; uniste nele uma infinidade de mecanismos que operam incessantemente como instrumentos precisos, garantindo a preservação desta belíssima morada que abriga a alma imortal. Essas forças atuam com perfeita ordem, cooperação e harmonia. Contudo, quando fraquezas ou paixões descontroladas rompem esse equilíbrio, essas forças entram em conflito, e o corpo retorna ao pó de onde foi formado. Tu enviaste ao homem sinais – as enfermidades – como advertências para que ele se prepare e enfrente os perigos.
“A Divina Providência confiou-me a missão de zelar pela vida e bem-estar das Tuas criaturas. Que o amor pela minha profissão me guie constantemente, e que a cobiça, o egoísmo ou a busca de prestígio nunca contaminem minha intenção; pois essas paixões, inimigas da verdade e da generosidade, poderiam facilmente desviar-me do nobre objetivo de fazer o bem aos Teus filhos.
“Concede-me firmeza de espírito e clareza de pensamento para que eu possa atender tanto aos ricos quanto aos pobres, aos justos e aos falhos, amigos e adversários, e que eu veja em cada paciente apenas um irmão que sofre. Se médicos mais experientes do que eu desejarem me orientar, inspira-me com humildade e sabedoria para acolher seus conselhos, pois vasta é a ciência da medicina. A nenhum ser humano é dado compreender sozinho tudo o que outros podem perceber.
“Que eu seja equilibrado em todas as coisas, exceto na busca pelo conhecimento; nessa, que eu seja incansável. Concede-me perseverança e ocasiões para corrigir os erros do que já aprendi e expandir continuamente meus horizontes, pois o saber é infinito, e o intelecto humano possui capacidade ilimitada de crescimento, podendo se enriquecer a cada dia com novos entendimentos. Hoje, ele pode reconhecer os enganos de ontem, e amanhã pode vislumbrar verdades que hoje ainda lhe são obscuras.
“Ó Criador, Tu me confiaste a missão de cuidar da vida e do destino das Tuas criaturas: aqui estou, preparado para cumprir meu dever.”
Amen V’Amen.