Desde a época do Templo Sagrado era visível para os judeus que levavam seus sacrifícios, que não importava qual fosse: um sacrifício representado por um animal de porte como um boi, uma ovelha, até uma certa quantidade de farinha (o que dependia da posse de cada um): todos eram aceitos e igualmente queridos por D’us. Assim, mesmo a mais ínfima doação de um pobre equivale para D’us como a maior doação de um rico.
Aprendemos de nosso patriarca Avraham o dom da generosidade. Assim como sua tenda possuia quatro aberturas que davam para as quatro direções do deserto a fim de visualizar qualquer estrangeiro que passasse próximo ao seu caminho para convidá-lo a usufruir de sua hospitalidade, da mesma forma, devemos ser reconhecidos como seus legítimos descendentes: estender a mão para quem se encontra em nosso caminho e sempre procurar ajudar nosso semelhante.
Devemos sempre nos colocar em seu lugar, pois da mesma forma que nos dirigimos humildemente ao Criador em busca de bênçãos de saúde, alegrias materiais e espirituais, somos carentes: ocupamos a mesma posição daquele que se encontra diante de nós e pede para que estendamos nossa mão.
Devemos pensar que através das gerações poderemos também ter descendentes que um dia necessitarão talvez da ajuda de outros e portanto, nos sensibilizar que todos nós poderíamos estar em seu lugar. Devemos pensar que não nos encontramos em sua situação apenas pelo fato de que através de nossa ajuda possamos lhe fornecer mais conforto e dignidade, sendo justo com os bens que recebemos de D’us, para usá-lo da maneira que Ele espera que façamos.
Nossos bens é como um penhor que um dia deveremos devolver e restituir ao seu legítimo Dono.
A Torá declara no seguinte versículo:
“Se houver um carente entre seus irmãos, numa de suas cidades, na terra que D’us deu a vocês, não endureçam seus corações nem fechem a mão a seu irmão carente. Vocês definitivamente devem abrir suas mãos e lhe emprestar o suficiente para o que lhe faltar (Devarim 15:7,8)”.
A palavra hebraica Tsedacá é erroneamente traduzida como ‘caridade’, mas a palavra correta que provém de tsêdek é “justiça”. Ela difere da caridade pois esta é definida como “um ato de generosidade ou de auxílio a um pobre”. A Tsedacá não é meramente um ato de caridade: toda vez que alguém proporciona satisfação a outros – mesmo aos ricos – com dinheiro, comida ou palavras reconfortantes, ele cumpre esta mitsvá!
Este é um dos 613 preceitos dados por D’us no Monte Sinai ao povo judeu.
D’us permitiu que existissem pobres e ricos para que os seres humanos exercecem bondade e justiça uns com os outros transformando seu livre arbítrio em ações positivas.
Quando as pessoas dão tsedacá, podem sentir que estão fazendo sacrifício por doar parte de seu próprio dinheiro a outrem. Podem mesmo aborrecer-se com o receptor da tsedacá por tirar vantagens. A Torá nos diz que esta atitude é errada, advertindo: “Não dê de má vontade.” A razão está no versículo de Provérbios que diz: “Não retenha o bem daquele a quem é devido, quando está em seu poder fazê-lo.” Aquilo que damos aos necessitados rigorosamente pertence a eles, e a pessoa com meios é, na verdade, apenas o depositário da propriedade dos pobres.
Em Provérbios também encontramos: “Não roube dos pobres.” Mas o que os pobres têm que possamos roubar deles? Este versículo refere-se à retenção da tsedacá, porque quando as pessoas o fazem, guardam para si mesmas o que por direito pertence aos pobres. Seria uma espécie de roubo.
Aqueles que recebem tsedacá não devem se sentir humilhados, e quem dá tsedacá não deve se sentir magnânimo. É simplesmente um ato de justiça, de distribuir o quê, por direito, pertence a cada pessoa.
A Torá nos ordena dar um décimo de nossa renda líquida. É meritório dar 20% (Shulchán Aruch Yore Dea 249:1). Existem muitos exemplos na Torá onde nossos antepassados deram seu maasser (dízimo), como com Avraham (Bereshit 14:20) e Yaácov (Bereshit 29:22), bem como a mitsvá de darmos 10% de nossas entradas aos Leviim (membros da tribo de Levi) (Bamidbár 18: 21,24) e outros 10% aos pobres da localidade (Devarim 26:12).
O Gaon de Vilna (Lituânia, 1720-1797) explicou que o critério para darmos Tsedacá está indicado no versículo da Torá que já mencionamos acima, quando uma pessoa fecha sua mão, seus dedos parecem ficar todos com a mesma altura. Quando ela os abre, entretanto, percebe que cada dedo tem uma altura diferente. O mesmo se dá com a Tsedacá: Cada indivíduo carente tem necessidades diferentes e nossa obrigação com cada um varia conforme sua necessidade. O versículo 7 diz: “Não feche sua mão”, ou seja, não dê a mesma quantia a todos os que lhe pedirem”. O versículo 8 continua: “Vocês definitivamente devem abrir suas mãos”, significando: ‘Perceba que cada pessoa é diferente da outra e contribua conforme o caso’.”
A Tsedacá deve ser dada com prazer e com um semblante agradável. Se um pobre lhe pede dinheiro e você não está apto a ajudá-lo agora, não levante a voz ou aja desagradavelmente. Solidarize-se com ele e, calmamente, expresse que gostaria de ajudá-lo, mas que neste instante não tem condições de fazê-lo. É louvável dar algo a uma pessoa pobre que pede um donativo, mesmo que seja uma pequena quantia.
Em Yom Kipur recitamos que “Três coisas revogam um Mau Decreto dos Céus — Teshuvá (retornar ao caminho da Torá), Tefilá (orações) e Tsedacá (atos de justiça, de correção)”. Acima de tudo, não dê com cara amarrada ou se arrependa de atos de Tsedacá (ou de qualquer outra Mitsvá) que tenha feito — você perderá o mérito do ato! Mas não pratique o ato pela recompensa, pois conforme o ensinamento de nossos sábios “a verdadeira recompensa pelo cumprimento de uma mitsvá, é a própria mitsvá”
Tudo o que possuímos é um empréstimo de D’us. Na realidade, tanto a colheita, como a renda monetária de cada indivíduo é um presente Divino. A Torá não quer que nos esqueçamos disto. Por isso, instituiu que um décimo da colheita, ou da renda, fosse doada. Este é um lembrete de que na realidade nenhum bem material é nossa propriedade eterna, e temos de usar o que temos agora para o bem.
Existem muitas mitsvot englobadas dentro da mitsvá de Tsedacá, que por sua vez está englobada dentro do mandamento mais amplo de imitarmos as características do Todo-Poderoso: Da mesma forma que D’us cuida de nós, devemos nos esforçar para ajudar o restante da humanidade.
O Rambam, Maimônides (1135-1204), um dos grandes codificadores das Lei Judaica, estabeleceu uma hierarquia de 8 pontos para esta mitsvá:
1) Dar um presente, emprestar dinheiro, aceitar como sócio ou arrumar trabalho para alguém, antes que ele precise pedir caridade;
2) Fazer caridade com um pobre, onde ambos o doador e o destinatário não sabem a identidade um do outro;
3) O doador sabe quem é o destinatário, mas este não sabe quem é o doador;
4) O destinatário sabe quem é o doador, mas este não sabe para quem está doando;
5) O doador faz a caridade antes mesmo de lhe ser pedida;
6) O doador dá algo a um pobre depois de lhe ser pedido;
7) O doador dá menos do que deveria, mas o faz de uma maneira agradável e reconfortante;
8) O doador faz a caridade com avareza (ele sente incômodo neste ato, mas não o demonstra). Consta no Shulchán Aruch (O Código deLeis Judaico) (Yore Dea 249:3) que se a pessoa visivelmente demonstra desprezo, ela perde o mérito desta mitsvá.
Na época do Templo Sagrado todo o povo deveria dar dez por cento de sua colheita para a Tribo de Levi, constituída pelos leviim e cohanim. Vamos explicar o por quê desta lei. A tribo de Levi foi escolhida para ser a representante do povo de Israel perante D’us. Assim sendo, ao invés de possuir um pedaço de terra e nela trabalhar, a Tribo de Levi trabalhava no Templo Sagrado, oferecendo os sacrifícios e as demais tarefas, em nome do povo judeu. O povo retribuía a tribo de Levi com o dízimo, e assim eles eram sustentados. Assim, na época do Templo Sagrado o dízimo era dado por todo o povo para a tribo de Levi.
Estes não receberam uma porção de terra para o cultivo, como as outras tribos, pois moravam na região do Templo em Jerusalém ou em cidades designadas para eles. Estas tribos, que tanto dedicavam-se em prol de Israel, eram sustentadas pelo povo. Os dízimos mencionados a seguir eram consumidos pelos Cohanim e Leviim e suas famílias.
Na época do Templo Sagrado, as oferendas, que representavam o maasser, eram retiradas da seguinte maneira:
Há muitas outras leis relativas ao maasser (dízimo) inclusive relativas ao plantio e colheita da terra em Israel que vigoram até hoje, beneficiando viúvas, órfãos e necessitados. Leia, estude e consulte sempre um rabino.
O dízimo pode ser aplicado de várias maneiras. Uma das formas mais nobres é dando dinheiro para a caridade. No judaísmo existe a mitsvá, o preceito, de doarmos 10 % de nossa renda ou até mais para instituições e pessoas necessitadas, a nosso próprio critério. Procuramos entidades idôneas que sabemos com certeza que o dinheiro será todo aplicado em obras assistenciais, ajuda a pobres e necessitados, viúvas, órfãos, deficientes, idosos, custeio de estudos a estudantes carentes, e assim por diante.
A prática do dízimo é benéfica para qualquer pessoa, independente de sua religião. Líderes de todas as religiões devem estimular seus seguidores a adotar práticas de caridade e compatilhar aquilo que tem com os menos afortunados.
Em primeiro lugar, devemos doar aos necessitados da própria família. Depois, aos carentes de nossa cidade, instituições de caridade, sinagogas e outras instituições.
Na realidade, tanto a colheita, como a renda monetária de cada indivíduo é um presente Divino. A Torá não quer que nos esqueçamos disto. Por isso, instituiu que um décimo da colheita, ou da renda, fosse doada. Este é um lembrete de que na realidade nenhum bem material é nossa propriedade eterna, e temos de usar o que temos agora para o bem, e nunca pensar “amanhã”, ou “talvez…”. Pois este “talvez” pode também significar que “Talvez não estejamos mais aqui amanhã”.
Que possamos abrir nossos corações, mentes e mãos diariamente para praticar atos de justiça e nos tornarmos hoje dignos de termos sido os fiéis depositários da confiança e eterna bondade Divina.
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