QUEM FOI OR HACHAIM?

Foi curta a vida de Rabi Chaim Ben Attar- Or Hachaim Hacadosh e, em grande parte, passada no Marrocos do século 18. Deixou para este  mundo imensa sua contribuição ao judaísmo.

Cabalista, exegeta, talmudista e orador conceituado, é o autor da obra Or HaChaim,( Luz da Vida) na qual explica as passagens da Torá utilizando-se de interpretações literárias, midrashim e explicações místicas mais profundas. Sua obra conquistou tamanha fama que, após sua publicação, ele próprio ficou conhecido como Or HaChaim Hacadosh. Dedicou a vida não apenas a estudar a Torá e a Cabalá, mas procurou ensiná-la a todos em sua volta. Sabia que o mero conhecimento não bastava; havia que disseminá-lo.

 

Conforme o costume sefaradita, Or Chaim  recebeu o nome do avô, Rabi Chaim, conhecido por sua erudição e grande generosidade. Os irmãos Attar – o velho Rabi Chaim e Rabi Shem-Tov, que tomava conta dos negócios da família em Meknés, eram abastados comerciantes. Isto, no entanto, não os impedia de se dedicarem ao estudo da Torá, usando grande parte de seus recursos para difundir o judaísmo.

Ainda criança, Rabi Chaim começou a estudar com o avô, de quem o jovem herdara não só o nome como as virtudes e prodigiosas aptidões, em especial a extraordinária assiduidade no estudo dos Livros Sagrados. Desde a infância, o jovem revelara os dons que o fariam um dos maiores sábios de sua geração: uma alma extraordinária e um profundo amor a D’us, aliados a uma mente privilegiada e a uma insaciável sede de conhecimento.

Os primeiros anos da vida do jovem Chaim foram de tranquilidade e estudo, como ele os descreve na introdução de seu livro, Chafetz Hashem (O Desejo de D’us): “Estudei a Torá com meu avô, meu mestre, que era um grande rabino, respeitado, piedoso e humilde. Seu nome era Chaim Ben Attar. Desde que nasci, fui criado em seus joelhos e absorvi todas as suas maravilhosas palavras.”

Em Meknés, o jovem se dedicava integralmente a estudar Torá e Cabalá. Quando chegara o momento de escolher uma noiva, é seu avô e mentor quem escolhe Patsonia, sua prima, filha de Rabi Moshé Ben Shem-Tob. Homem de grandes posses, conselheiro do sultão, a casa de Rabi Moshé era sempre aberta aos necessitados. E, para incentivar o estudo da Torá, financiava a impressão de livros judaicos e garantia o sustento a quem quisesse dedicar a vida a ensinar o judaísmo.

Os dois jovens se casam e, sem ter que se preocupar com a manutenção de sua nova família, o Or Chaim Hacadosh continua a estudar e lecionar. Esse período de calma permite que se desenvolva sua personalidade e dons espirituais. Apesar de ainda jovem, suas opiniões e deliberações são respeitadas por todos. É nessa época que começa a escrever os livros que o tornariam famoso em todo o mundo judaico.

Uma vez de volta à cidade, reabre a yeshiva fundada pelo avô, o velho Rabi Chaim, então já falecido. Também trabalha algumas horas por dia como ourives e tecelão, em fios de ouro e prata. Aprendera o ofício, na adolescência, para um dia não ser obrigado a depender dos outros. Extremamente habilidoso, o que ganhava lhe garantia sustentar a família, os alunos e ainda lhe permitia ajudar muitos pobres da cidade. Sua casa, assim como seu coração, era aberta a todos que precisassem, havendo sempre convidados à sua mesa. 

Em Jerusalém, Rabi Chaim não mediu esforços em seu desvelo para atingir níveis cada vez mais altos de espiritualidade. Envolto em seu Talit, sempre com os Tefilin colocados, passava dias estudando e orando na companhia dos alunos. Ademais, rompendo com a tradição à época, apenas se expressava em hebraico, Lashon HaCodesh, o idioma sagrado. Não parou de escrever, sendo desta época sua obra: Rishon Letzion, Al Neviim V’Ketuvim, um comentário sobre os Profetas, as Crônicas e sobre alguns tratados do Talmud. 

 

Principais obras: 

Chafetz Adonai (Desejo de Deus); Amsterdã, 1732 – dissertações sobre os quatro tratados talmúdicos: Berakot, Shabat, Horayot e Ḥullin.

Or ha-Ḥachayim (Luz da Vida); Veneza, 1742 – um comentário sobre o Pentateuco depois dos quatro métodos conhecidos coletivamente como Pardes; foi reimpresso várias vezes. Sua fama baseia-se principalmente neste trabalho, que se tornou popular também com os Ḥassidim.

Peri Toar (Bela Fruta); sobre o Shulḥan ‘Aruk, Yoreh De’ah, lidando especialmente com o comentário de Hiskiah de Silva Peri Ḥadash, Amsterdam, 1742; Viena e Lemberg, 1810.

Rishon le-Zion Constantinopla, 1750 – consistindo vários tratados Talmúdicos, em certas partes do Shulḥan ‘Aruk, na terminologia de Maimonides, nas cinco Meguillot, nos Profetas e em Provérbios.

Sob o mesmo título foram publicados em Polná, 1804, suas notas sobre Josué, Juízes, Samuel, Isaías, etc.

Sem perder tempo, fundou uma Yeshiva que chamou de Knesset Israel e mais outra, secreta, para o estudo da Cabalá.  O tempo todo pairava sobre ele um espírito de santidade e de desprendimento deste mundo, bem como uma força espiritual fora do comum”. O prestígio e fama de Rabi Chaim fizeram com que sua yeshiva atraísse um número crescente de alunos.

Nos meses em que viveu em Jerusalém, Rabi Chaim rezava frequentemente no Kotel, diante do Beit Hamicdash, como costumava. 

E, segundo a tradição, teria surgido com ele o costume de colocar “bilhetinhos” nas frestas das pedras do Muro pedindo ajuda e proteção Divina. Há várias histórias sobre pessoas que o procuravam buscando auxílio e recebiam um pequeno pedaço de papel dobrado, com a recomendação de que o colocassem sem demora em uma das frestas do Muro Ocidental. No papel, o Or Chaim Hacadosh implorava a D’us para que concedesse Sua Divina bênção ao suplicante.

Rabi Chaim não pôde viver muito na Jerusalém com a qual tanto sonhara. Nem um ano transcorrera desde que se instalara na cidade, quando, no dia 15 de Tamuz de 1743, um sábado à noite, com apenas 47 anos de idade, ele é chamado desta sua moradia terrestre. Quando sua alma deixou seu corpo, seu contemporâneo, Rabi Haim Aboulafia, em Tiberíades, perdeu os sentidos em meio à oração, ficando desacordado durante meia-hora. Ao voltar a si, revelou ter “acompanhado o Or HaChaim Hacadosh até os portões do Gan Eden.” 

Or Hachaim foi enterrado fora das muralhas da Cidade Velha de Jerusalém, no Monte das Oliveiras. Seu túmulo é visitado por milhares de judeus, em respeito ao seu legado e toda contribuição e luz  deixada ao povo de Israel.

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