O que é o Pardes? Quem pode
suportar tamanho esplendor?

Pardes (פרדס) é uma sigla mnemônica que representa os quatro níveis de interpretação da Torah:

  • PPshat (פשט): sentido literal

  • RRemez (רמז): alusão

  • DDrash (דרש): interpretação midráshica

  • SSod (סוד): segredo ou ensinamento esotérico (Kabalá)

O “entrar no Pardes” refere-se a uma imersão espiritual profunda nos segredos da Criação, nos mistérios do mundo superior e na presença divina.

A história aparece no Talmud Bavli, Chaguigá 14b–15b, e também em outros textos rabínicos. Os quatro rabinos são:

  1. Ben Azzai 

“Olhou e morreu.”

Ben Azzai teve uma experiência espiritual tão intensa e sublime que sua alma se separou do corpo, como se tivesse “se queimado” pelo contato com a luz divina sem os devidos limites.

Ele representa o perigo de buscar o Divino sem preparo emocional ou físico adequado.

  1. Ben Zoma 

“Olhou e ficou perturbado.”

Ben Zoma saiu do Pardes confuso, mentalmente abalado. A profundidade do que viu desorganizou sua mente, e ele perdeu o equilíbrio.

Representa o risco de alcançar revelações sem estrutura psicológica e equilíbrio para sustentá-las.

  1. Elisha ben Avuyá“Acher” (“O Outro”)

“Cortou as raízes.”

Ele saiu do Pardes e se afastou completamente da fé, tornando-se um herege. Por isso passou a ser chamado apenas de “Acher” — “O Outro”. O que viu o fez rejeitar a autoridade divina, segundo algumas interpretações.

Ele representa o risco de usar a sabedoria espiritual para alimentar o ego ou questionar o fundamento da emuná (fé).

 

  1. Rabi Akiva 

“Entrou em paz e saiu em paz.”

Rabi Akiva foi o único que entrou no Pardes, compreendeu o que viu e saiu em paz, preservando sua fé, sua sanidade e sua conexão com D’us.

Ele é o modelo do equilíbrio entre devoção, preparo, pureza, humildade e profundidade de estudo.

A narrativa dos quatro que entraram no Pardes é uma advertência espiritual:

  • Nem todo conhecimento é para todos.

  • A busca por profundidade exige pureza de intenções, disciplina emocional e orientação verdadeira.

  • Sem a base sólida da Torah revelada, o estudo místico pode se tornar destrutivo.

  • O verdadeiro sábio, como Rabi Akiva, não se perde na luz, mas traz luz ao mundo.

Hoje, muitos desejam mergulhar nos segredos da Cabala e das dimensões espirituais. A tradição judaica, no entanto, coloca limites e caminhos seguros para isso:

Estudar Torah com profundidade primeiro – Quem não conhece o Pshat, a Halachá e os fundamentos da Emuná, não deve correr atrás do Sod.

Buscar mestres confiáveis e piedosos –  A Cabalá não é uma aventura intelectual, é um caminho espiritual que exige pureza e orientação.

Cultivar humildade.- Quem entra para “dominar os segredos” já começa como Acher. Quem entra para servir a D’us com mais verdade, como Rabi Akiva, sai em paz.

A história dos quatro que entraram no Pardes continua viva em cada geração. Ela nos lembra que conhecimento sem limites pode cegar, que fogo espiritual exige preparo, e que a verdadeira sabedoria é aquela que nos transforma em pessoas mais conectadas, humildes e comprometidas com a verdade divina.

 

 O QUE SIGNIFICA “ENTRAR EM PAZ”?

“Entrar em paz” significa acessar o mundo espiritual com humildade, pureza e reverência. Não como quem deseja controlar ou “possuir” o conhecimento místico, mas como um servo que deseja se anular diante da grandeza divina.

Rabi Akiva se aproximou do Pardes (os segredos místicos) com temor e equilíbrio. Ele não buscava glória pessoal, não se deixava levar pelo ego, e já havia sido profundamente formado na Torah revelada e na Halachá. Ele não buscava os segredos para se exaltar, mas para servir melhor a D’us.

A Kabalá diz que aquele que entra nos mistérios sem as “vestes adequadas” (humildade, pureza e retidão) corre o risco de se queimar — como aconteceu com os outros três.

E O QUE É “SAIR EM PAZ”?

“Sair em paz” significa que ele voltou com a mente clara, o coração alinhado e a fé ainda mais forte. Ele não se confundiu, não caiu em heresia, não se perdeu nos paradoxos da realidade espiritual. Ao contrário, ele entendeu, integrou e saiu fortalecido.

Rabi Akiva foi o único que trouxe luz para o mundo real a partir do Pardes, sem se desconectar dele.

O Zohar (Parashat Acharei Mot, Zohar III 73a) descreve Rabi Akiva como um dos maiores mestres do Sod, capaz de entrar nas câmaras celestiais e compreender a estrutura dos mundos superiores.

O Arizal (Rabi Yitzchak Luria) também ensina que a alma de Rabi Akiva tinha origem elevada e por isso ele era capaz de tocar o infinito e permanecer inteiro.

QUAL ERA O SEGREDO DE RABI AKIVA?

Algumas respostas possíveis:

  1. Sua humildade extrema.
    Ele dizia: “Tudo o que tenho é da Torah.” Ele via a si mesmo como pó e cinzas. (Talmud Bavli, Pesachim 49b)

  2. Sua alegria no sofrimento.
    Rabi Akiva era o mesmo que disse:


    “Tudo que D’us faz, é para o bem.”
    Ele conseguiu ver unidade mesmo no sofrimento. (Talmud Bavli, Menachot 29b)


  3. Seu domínio absoluto da Torah revelada.
    Ele era o mestre dos mestres. Seu conhecimento da Halachá, da Torah escrita e oral era sólido, e isso o protegeu ao entrar no Sod. (Talmud Bavli, Sanhedrin 86a)

  4. Sua motivação pura.
    Ele não buscava experiências espirituais para si mesmo, mas para conhecer melhor a vontade de D’us e cumpri-la com mais perfeição. (Zohar I:11b; Chaguigá 14b–15b)

Rabi Akiva nos ensina que buscar o espiritual não é errado — mas é perigoso quando não há base, humildade e preparação. A geração atual tem sede de mística, de experiências, de transcendência. Mas:

Sem paz interior, sem estrutura de fé, sem preparo na Torah revelada, o Sod pode se tornar destrutivo.

A verdadeira espiritualidade começa com paz e termina com paz. E paz, no judaísmo, vem de equilíbrio, disciplina, humildade e confiança.

Que possamos entrar com reverência e sair com luz,  como Rabi Akiva.

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