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Pela manhã Yaacov viu Essav aproximar-se, com seu exército. Yaacov posicionou-se à frente do seu acampamento. Pensou: “Se o perverso Essav quer atacar, que lute comigo primeiro!”
Yaacov inclinou-se sete vezes perante Essav. Quando Essav viu isto, correu, abraçou-o e beijou-o.
O Beijo de Essav
O que Essav tinha em mente ao beijar Yaacov? Nossos Sábios têm opiniões diferentes sobre isso:
Rabi Shimon ben Yochai explicou: “Quando Essav viu Yaacov curvando-se humildemente à sua frente, sentiu pena do irmão. Beijou-o com todo seu coração e sua alma.”
Rabi Yanai explicou de outro modo: Na Torá, a palavra ‘vayishakêhu’ (e ele o beijou) possui pequenos pontinhos sobre cada letra. A Torá nos sugere que Essav, na verdade, planejava morder Yaacov! Pensou que pegaria Yaacov desprevenido porque estaria esperando um beijo do irmão. Essav planejou rapidamente cravar os dentes no pescoço de Yaacov e morder o irmão tão profundamente que este morreria!
Por que Essav planejou matar o irmão com uma mordida?
Ele queria evitar uma batalha, pois sabia que Yaacov tinha um grande número de homens que o apoiavam. Além disso, os generais de Essav o desertaram quando viram a sagrada face de Yaacov. Essav, portanto, preferiu assassinar Yaacov enganando-o com um truque. Mas D’us fez um milagre para Yaacov. Seu pescoço tornou-se duro como mármore! E os dentes de Essav encontraram grande dificuldade para atingir seu alvo.
Este episódio é novamente um sinal para o futuro. Assim como a tentativa de Essav de matar Yaacov falhou, assim D’us protegerá seus filhos da fúria das nações.
Essav viu as esposas e filhos de Yaacov. “Quem são tais pessoas?” – perguntou.
“São os filhos que D’us me concedeu”, respondeu Yaacov.
As esposas e filhos de Yaacov aproximaram-se para curvarem-se perante Essav. Essav observou-os, mas não percebeu Rachel entre eles. Yossef colocou-se na frente de sua mãe, ocultando-a das vistas de Essav. “Quem sabe o que este perverso Essav tem em mente,” pensou. “Não o deixarei olhar para Rachel, nem é bom que minha mãe olhe para este homem malvado, pois o choque poderia ocasionar-lhe um aborto.” Rachel estava então grávida de Binyamin.
Ao perceber os servos e gado de Yaacov, Essav disse: “Pensei que você só estivesse interessado no Mundo Vindouro. Como você conseguiu amealhar tanta riqueza neste mundo?”
“D’us concedeu-me tudo isto para ser utilizado em Seu serviço.”
“E de quem era aquele acampamento que encontrei?” perguntou Essav a Yaacov.
“Não te disseram? São meus homens!” retrucou Yaacov.
“Dizer-me? Em vez disso, me bateram! Um batalhão após o outro veio a mim, alguns montados à cavalo, outros de armadura. Perguntaram-me : ‘Quem é você?’ ‘Essav,’ repliquei. Ao ouvir isto, começaram a me bater, e gritei: ‘Deixem-me em paz! Sou o neto de Avraham!’ Ignoraram minhas súplicas e continuaram a me chicotear. ‘Sou o filho de Yitschac!’ Não me deram atenção, mas desferiram golpes sem dó. ‘Sou o irmão de Yaacov. Ele retornou após vinte anos de ausência, e quero ir ao seu encontro!’ Assim que mencionei seu nome, pararam de me bater, dizendo: ‘Você é o irmão de nosso amigo Yaacov. Por causa dele deixaremos você ir!’. Um segundo e terceiro grupo armado marchou em minha direção, para me bater, e só me soltaram quando mencionei seu nome. Recebi um número suficiente de pancadas!”
Yaacov compreendeu que D’us havia enviado exércitos de anjos para amedrontar Essav.
Essav quis saber: “De quem são todos esses rebanhos vindo em minha direção?” “São um presente para você,” respondeu Yaacov.
“Tenho muito. Guarde o que quer que seja teu!”
Com estas palavras Essav admitiu que Yaacov pode ficar com as bênçãos de Yitschac legitimamente.
“Por favor, fique com meu presente,” insistiu Yaacov. “Considero meu encontro com você tão grandioso quanto meu encontro com o anjo que derrotei. Aceite meu agrado, pois D’us foi gracioso comigo e tenho tudo.”
Finalmente, Essav aceitou o presente de Yaacov.
(Ao descrever suas posses Yaacov diz: “Tenho tudo”, ou seja, tudo que necessito. Isto é a característica de um tsadic. Não importa o quão muito ou pouco possui, sempre está satisfeito, pois sente que o que quer que tenha é tudo o que necessita. Porém perversos como Essav, falam de maneira arrogante: “Tenho muito”, enfatizando a abundância de seus bens e proclamando que acumularam muito, mas nunca o suficiente, pois são constantemente consumidos pela ganância.)
Essav sugeriu a Yaacov: “Continuemos nossa viagem juntos!”
Yaacov pensou: “É melhor não viajar na companhia de um rashá (perverso).”
“Não,” respondeu Yaacov. “Estou viajando com crianças pequenas e rebanhos de animais jovens. Tenho que ser delicado com eles, e movemo-nos a passos muito lentos. É melhor que você vá na frente para Seir, e eu chegarei lá depois, em algum momento!”
Essav concordou e se separaram em paz.
Yaacov nunca viajou a Seir para encontrar-se com Essav. Em vez disso, porém, ficou na cidade de Sucot. Não obstante, nosso patriarca Yaacov não mentiu. Ele indicou a Essav que encontrar-se-iam no Monte Seir em alguma data futura, na época de Mashiach, quando Essav lá será julgado por sua iniquidade.
Após o encontro com Yaacov, Essav voltou para a terra de Seir sozinho, sem seus quatrocentos generais. Desertaram-no um a um, pois assim que ficaram face a face com Yaacov e contemplaram sua grandeza, foram tomados de medo.
Foi realmente um milagre que Essav tenha voltado para casa sem ter prejudicado Yaacov.