Entre as milhares de almas que saíram do Egito na noite do Êxodo, a Torá menciona um grupo enigmático:
“E também subiu com eles uma grande mistura de gente (Erev Rav)…”
— Shemot (Êxodo) 12:38
Esse grupo, conhecido como Erev Rav, não fazia parte dos filhos de Israel, mas acompanhou o povo na saída do Egito. Aparentemente, tinham boas intenções: foram atraídos pelos milagres, pelo poder do D’us de Israel, e quiseram se juntar ao povo que Ele estava libertando. Mas por trás dessa aproximação havia algo que a tradição judaica nunca ignorou: uma mistura espiritual perigosa.
De acordo com os midrashim, o Erev Rav era composto por egípcios, estrangeiros e oportunistas que aproveitaram o momento para escapar do Egito junto com os hebreus; muitos deles envolvidos com feitiçarias como era de costume da sua nação.Eles não passaram pelos mesmos testes de fé, não estavam circuncidados de coração muito menos feito parte do pacto com Avraham. Por isso, quando surgiram as provações no deserto, foram eles os primeiros a reclamar, a exigir retorno ao Egito, e sobretudo, a liderar a confusão que resultou no Bezerro de Ouro (Midrash Shemot Rabbah 42:6).
O Zohar (Shemot 25b) afirma que Moshê Rabeinu os aceitou com boas intenções, desejando guiá-los à luz da Torah, mas sua presença trouxe danos espirituais profundos, muitos dos quais perduram até hoje.
Na Kabalá, o Erev Rav representa as forças internas e externas que confundem o discernimento espiritual. São ideias, desejos e comportamentos que se disfarçam de bem, mas desviam a alma da verdade da Torah. São como vozes interiores que dizem:
Essas frases podem parecer inofensivas — até espirituais —, mas são a mistura sutil que contamina a clareza da fé. São resquícios do Erev Rav: ideias que querem participar da libertação, mas não se submeteram à transformação.
O grande mestre Gaon Vilna escreve que, no fim dos tempos, o maior desafio para o povo judeu não virá de fora, mas de dentro. Serão lideranças e ideologias que usam o nome de Israel, mas sem fidelidade à Torah. Serão doutrinas, filosofias e modas que usam linguagem espiritual, mas afastam as pessoas da verdadeira conexão com o Criador.
Hoje, o Erev Rav pode se manifestar:
A verdade é que cada um de nós carrega uma pequena parcela do Erev Rav dentro da alma — as partes que ainda não saíram completamente do Egito, que querem se aproximar de D’us, mas sem esforço, sem obediência, sem mudança real.
Por isso, a luta contra o Erev Rav é diária e pessoal. É a batalha contra a confusão, contra o ego, contra o desejo de atalhos espirituais.
“E contarás a teu filho naquele dia, dizendo: Foi por isso que Hashem fez por mim ao sair do Egito.”
(Shemot 13:8)
Essa frase que repetimos no Seder de Pessach nos lembra: a libertação verdadeira exige consciência e separação entre luz e escuridão, entre pureza e mistura.
Ao estudar com profundidade, praticar com sinceridade e andar com discernimento, transformamos a confusão em clareza, a mistura em unicidade, e o Egito interior em libertação verdadeira.
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