Algumas pessoas se barbeiam por temerem ser ridicularizadas por seus colegas, para os quais este pecado tornou-se uma norma. Isto se refere a barbear-se com uma navalha, o que viola a proibição mencionada na Torá “… e não raspareis (com navalha) a vossa barba” (Levítico19:27).
Que desculpa patética para transgredir diversas proibições da Torá com cada movimento do barbeador!
Para melhor ilustrar esta questão, imagine o seguinte:
Certa noite, já tarde, um homem olhou para fora de sua janela e notou que a casa de seu vizinho estava em chamas. Rapidamente correu para fora, dirigindo- -se à janela do quarto de seu vizinho, e começou a bater e a gritar: “Acorde! Saia daí! A casa está pegando fogo! Se você não sair já será queimado vivo!”. Ao examinar o interior do aposento, ele ficou chocado ao ver que o vizinho estava calmo e impassível: primeiro ele se vestiu, depois lavou o rosto e arrumou suas roupas, tal como se estivesse cumprindo a sua rotina matinal. Daí, explicou ele ao seu espantado amigo: “Veja, é que eu não posso sair de minha casa assim. As pessoas hão de caçoar de mim!”.
Em resposta àquela ridícula afirmação, o herói de nossa história respondeu, gritando, ao seu vizinho: “Não seja idiota! Você preferirá morrer apenas para evitar ser escarnecido pelos outros que são tão tolos quanto você?”
O homem que se barbeia para que não seja ridicularizado, está se comportando exatamente como aquele que prefere ser queimado vivo a aparecer barbado em público. Ele sabe que se violar os mandamentos de Hashem, ele será devorado pelas chamas do Guehinom. Assim, por que é que ele faz isto? Apenas para evitar o escárnio de alguns poucos tolos! Os Sábios nos dizem que é melhor ser considerado um imbecil durante toda a vida do que ser considerado, sequer por um momento, um maldito aos olhos do Onipotente. Quais serão as consequências do tempo que desperdiçamos neste mundo comparado àquele momento em que nos postaremos diante do Criador no Dia do Juízo?
Este princípio não se aplica apenas à proibição de barbear-se, mas, também, a todas as mitsvots. Jamais devemos titubear ou hesitar em nossas convicções por causa dos zombadores.
Assim escreveu o Rei Salomão: “Se a procurares como ao dinheiro… então compreenderás o temor a Hashem e alcançarás o conhecimento de D’us” (Provérbios 2:4-5). Devemos aprender daqueles que perseguem o dinheiro. Quando a pessoa se inicia nos negócios, todos os seus precursores caçoam de sua falta de experiência. Porém, se ela for esperta, ela há de ignorá-los e há de se concentrar na escolha dos melhores investimentos a serem feitos.
Em breve, ela começará a colher os dividendos e, então, será a sua vez de responder com agudeza: “Se eu tivesse dado ouvidos ao vosso escárnio e abandonado o meu empreendimento, eu teria perdido a chance de conseguir este lucro!”.
Se isto é verdade no que diz respeito às questões terrenas, imagine o quanto mais será em relação às recompensas eternas! Primeiramente, os amigos poderão gozá-lo dizendo: “Quando foi que ele se tornou tão religioso e começou a rezar três vezes ao dia?”. É exatamente isto o que está descrito nas Escrituras com referência ao Rei Saul. Quando, pela primeira vez, o espírito da profecia veio sobre ele, as pessoas, em assombro, disseram: “Agora também Saul está entre os Profetas?” (1 Samuel 10:11).
Mas quando chega o tempo de receber a sua recompensa, o que dirão os seus companheiros, especialmente se eles próprios estão distantes da Torá e das mitsvot? Perante os seus próprios olhos, eles testemunharão o seu antigo companheiro, que se distanciou deles para, em vez disso, servir a D’us, receber a sua justa recompensa. Então, o seu escárnio será substituído pela vergonha e pela desgraça, flagelando-se por sua tolice.
(Tiferet Adam, cap. 7)