Um dos muitos argumento que o yêtser hará oferece, na tentativa de dissuadir a pessoa de preservar a sua língua, é que é impossível observar todos os aspectos das leis sobre a calúnia e a difamação, e, assim sendo, é melhor evitar não aplicar-se, em absoluto, a este assunto. No entanto, a pessoa deve perguntar-se: “Será que é assim que eu agiria caso se tratasse de uma questão de negócios?”. Por exemplo:
Imagine que, certo dia, você se apressa para ir ao trabalho, ansioso para iniciar a sua jornada. O seu vizinho vê você correndo rua abaixo e grita: “Por que você corre tanto? Você acha que correndo você se tornará o homem mais rico do mundo?” Certamente, você continuaria o seu caminho e responderia ao vizinho: “Só porque eu nunca serei rico, devo desistir de ganhar o meu sustento?”
Se assim respondermos com referência aos nossos negócios mundanos, qual haveria de ser a nossa atitude com referência às questões espirituais? Sabemos que se, realmente, observássemos todos os aspectos e detalhes das leis contra a calúnia e a difamação, conseguiríamos um elevadíssimo nível de santidade.
O Zohar, em Parashat Chukat, nos diz que aquele que preserva a sua língua merece alcançar um nível próximo à profecia. Pelo simples fato de a pessoa pensar que ela pode não conseguir, não deveria ela tentar proteger a sua alma ao máximo? Não deveria ela tentar se eximir de transformar-se num caluniador e fofoqueiro contumaz, que é uma das categorias a quem, segundo nos dão conta os Sábios, é proibida a aproximação à Presença de Hashem?
Como o Rei Salomão argumenta em Eclesiastes (9:10): “Tudo o que te achares capaz de fazer, faça!” Ainda que você não se ache capaz de cumprir a mitsvá em todos os seus detalhes, procure fazer o máximo que estiver ao seu alcance.
Em Deuteronômio (4:41), vemos que Moisés reservou três cidades de refúgio no lado oriental do Rio Jordão. No entanto, estas cidades não viriam a ser utilizadas para este fim (como lugares de exílio reservados àqueles condenados por homicídio) até que outras três cidades no lado ocidental também tivessem sido designadas. Isto somente seria feito depois que o povo judeu tivesse cruzado o rio. Os Sábios observam que Moisés, àquela altura, já sabia que não lhe seria permitido cruzar o Jordão, o que significava que as cidades jamais cumpririam a sua finalidade durante a sua vida. Ainda assim, ele disse: “Tudo aquilo que eu tiver forças para fazer, eu farei!”
Com isto podemos compreender a declaração dos Sábios, formulada em Avot D’Rabi Natan (cap. 27): “Não se afaste a uma distância ilimitada”. A segunda parte desta declaração: “ou de uma tarefa sem fim”,alude ao estudo da Torá.
(Shemirat HaLashon, Introdução)