CERCO DE JERUSALÉM - 1º TEMPLO

O dia 10 do mês hebraico de Tevet é um dia de jejum e de luto nacional para o Povo Judeu, pois marca o início do sítio a Jerusalém pelos exércitos de Nabucodonozor, no ano de 425 A.E.C, e a subsequente destruição do Primeiro Templo Sagrado. Essa data é considerada o início da dispersão de nosso povo e de todas as provações e tragédias que se seguiram.

O 10º dia do mês hebraico de Tevet é um dos quatro jejuns de menor importância no ano judaico. Dizemos um jejum de menor importância, comparando-o a Yom Kipur e Tisha b’Av, dias em que jejuamos durante 24 horas ou mais, e por se tratar de um jejum em que nos abstemos de ingerir alimentos e bebidas apenas desde um pouco antes do nascer do sol até o anoitecer.

Além do jejum, o dia 10 de Tevet é guardado como um dia de luto e arrependimento. Nas rezas matinais, incluem-se as Selichot – preces de penitência. Em tempos recentes, essa data passou a ser o dia em que se diz Kadish em memória das vítimas do Holocausto, muitos dos quais têm seu dia de martírio desconhecido. 


Por que jejuamos em 10 de Tevet?

Essa data marca o início da queda de Jerusalém e o subsequente exílio do Povo Judeu. Durante muitos anos, à época do primeiro Tempo Sagrado de Jerusalém, D’us enviava Seus profetas para alertar o Povo Judeu que se não melhorassem seu comportamento, Jerusalém e o Templo Sagrado seriam destruídos. Muitos judeus, inclusive seus líderes, caçoavam dos profetas, acusando-os de “falsas profecias de um destino cruel” e alegando que eles tinham o hábito de desmoralizar o povo. Chegaram, mesmo, a assassinar um dos profetas.

Até que, em 10 de Tevet do ano de 3336 (425 a.E.C.) os exércitos do imperador Nabucodonozor, da Babilônia, sitiaram Jerusalém. D’us retardou a destruição para dar aos judeus a oportunidade de se arrependerem. Enviou o profeta Jeremias para reprovar e advertir o Povo Judeu, mas em vez de ouvir seu chamado, eles o aprisionaram. Assim, 30 meses depois, no 9o dia do mês hebraico de Tamuz de 3338, os exércitos babilônicos romperam os muros de Jerusalém e, em Tishá b’Av, o nono dia do mês de Menachem Av, destruíram o Templo Sagrado de Jerusalém e exilaram o Povo Judeu.

De certa forma, o jejum de 10 de Tevet é extremamente duro, pois, diferentemente dos demais jejuns de menor importância, é cumprido mesmo quando cai em uma sexta-feira. Geralmente, é proibido jejuar nas sextas-feiras porque isso interferiria com os preparativos para o Shabat e não é adequado entrar em um dia sagrado sentindo-se faminto. Por esse motivo, quando os demais jejuns menores caem na sexta-feira, eles são antecipados para a quinta-feira. No entanto, o jejum de 10 de Tevet, como dissemos, deve ser cumprido mesmo em Erev Shabat, a véspera de Shabat. Há uma opinião que defende que se essa data caísse no Shabat, jejuar-se-ia nesse dia. Isso comprova a dureza desse dia de jejum, pois mesmo o de Tishá b’Av – que dura uma noite e um dia inteiros –  nunca é realizado no Shabat. Quando acontece de cair no Shabat, o jejum é adiado para o dia seguinte. 

O jejum do dia 10 de Tevet é tão severo pelo fato de ser visto como o início da cadeia de eventos que culminaram com a queda de Jerusalém e a destruição do Templo Sagrado, e o subsequente exílio do Povo Judeu. Apesar do seu retorno à Terra de Israel após os 70 anos de exílio na Babilônia e apesar da construção do segundo Templo Sagrado, a nação nunca se recuperou, de fato, da queda do primeiro Reino de Israel. O sítio a Jerusalém ocorrido em 10 de Tevet foi, portanto, a origem de todas as calamidades na História Judaica. E foi aí que começaram a dispersão de nosso povo e todas as provações e atribulações e tragédias que se seguiram.

Essa data é também o dia da recordação de dois eventos trágicos que ocorreram nos dias que antecederam o 10 de Tevet. O primeiro deles ocorreu em 8 desse mês e foi a tradução da Torá para o grego. Ptolomeu, o imperador egípcio-grego que estava no poder, reuniu 72 sábios da Torá, isolando-os em 72 aposentos separados e lhes ordenando que traduzissem a Torá para o grego. No 8º dia de Tevet do ano 3515 (246 a.E.C.) eles produziram 72 traduções idênticas! Foi um feito milagroso, particularmente porque havia 13 pontos onde os tradutores divergiram intencionalmente da tradução literal, para evitar que a Torá fosse mal interpretada por não judeus ao ler a tradução. Todos os 72 sábios traduziram essas 13 passagens da mesmíssima maneira! Apesar desse grande milagre, nossos Sábios viram essa tradução da Torá como um dos dias mais trágicos na História Judaica. Chegaram, mesmo, a compará-lo com o dia em que os judeus fizeram o Bezerro de Ouro.

Aparentemente, a tradução da Torá não deveria ser considerada um evento negativo. O próprio Moshé traduziu a Torá para 70 idiomas. No entanto, diferentemente dessa tradução e das traduções de nossos textos sagrados feitas ao longo dos tempos, especialmente em anos recentes, a tradução ordenada pelo imperador egípcio-grego não era uma empreitada sagrada nem Divina, mas um projeto humano motivado por uma intenção maldosa. Portanto, era como um bezerro de ouro – um receptáculo definido pelo homem para a Verdade Divina.  O propósito do imperador ao ordenar a tradução não era disseminar o estudo da Palavra de D’us, mas permitir uma distorção do significado original da Torá. E, de fato, a tradução grega da Torá ajudou os judeus helenistas a introduzir a cultura grega na vida judaica e a modificar o judaísmo de modo a adaptá-lo aos valores gregos e seu estilo de vida. O uso do idioma grego para traduzir a Torá teve amplas ramificações na sociedade judaica: minou alguns dos esforços dos rabinos no combate ao fascínio que os gregos exerciam sobre os judeus.

O segundo evento trágico que antecedeu o dia 10 de Tevet foi o falecimento de Ezra HaSofer, Ezra, o Escriba, que morreu no dia 9 desse mês, do ano de 3448 (313 a.E.C.)  – 1000 anos após a entrega da Torá no Monte Sinai. Nossos Sábios ensinam que se D’us não nos tivesse dado a Torá por intermédio de Moshé, Ele o teria feito através de Ezra. Este conduziu o retorno do Povo Judeu à Terra de Israel após o Exílio da Babilônia. Ele supervisionou a construção do Segundo Templo, fortaleceu o cumprimento das leis do Shabat e ajudou a pôr fim à onda de casamentos mistos que dizimava o Povo Judeu à época. Como chefe da Grande Assembleia de Sábios e Profetas, a Anshei Knesset HaGuedolá, Ezra compilou os 24 livros do Tanach (Torá, Profetas e Escritos – Torá, Neviim e Ketuvim) e, ao instituir uma série de práticas judaicas, assegurou a continuação do judaísmo autêntico entre o Povo Judeu.

Homem verdadeiramente incorruptível, Ezra era também um ser de grande compaixão, profunda visão, carisma e erudição quase sem paralelo. Pode-se dizer que Ezra HaSofer é o responsável pela sobrevivência do judaísmo até nossos dias. Por esse motivo, marcamos o dia de seu falecimento como um dia muito triste no calendário judaico.

Como jejuar nos três dias – 8, 9 e 10 de Tevet – seria fora de propósito, os eventos tristes dos outros dois dias são incluídos no jejum do dia 10.  Isso condiz com a política rabínica de reunir as comemorações tristes aos dias já consagrados ao jejum para evitar povoar o calendário judaico com tantos dias de recordações trágicas. A política de minimização do número de dias de celebração de eventos tristes se tornou prática aceita em toda a História Judaica, até o Holocausto. Como a Shoá não teve paralelo na história do Povo Judeu na Diáspora, como a enormidade da tragédia supera todas as demais, o Estado de Israel designou uma data especial apenas para o Dia da Recordação do Holocausto. 

Os rabinos, contudo, também atribuem a recordação do Holocausto ao dia 10 de Tevet. Esse dia, como mencionamos acima, é quando recitamos o Kadish por aqueles que foram mortos no Holocausto, mas cuja data de falecimento é desconhecida. Assim, nessa data, não apenas recordamos nossos 7 milhões de mártires; também jejuamos e choramos por eles.

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