A doação de sangue no Judaísmo é vista como uma forma significativa de tsedacá (caridade), além de ser uma grande mitsvá (mandamento). Salvar vidas é uma das mais altas prioridades da lei judaica, refletindo o princípio central de que cada vida é preciosa e merece proteção.
A Torá ensina: “Não fique inerte perante o sangue do próximo” (Vayicrá 19:16), interpretado pelo Talmud (San’hedrin 73a) como um mandamento de ajudar pessoas em perigo. A Halachá estabelece que, na medida do possível, cada um tem a responsabilidade de agir para salvar uma vida, seja com esforços físicos, tempo ou recursos financeiros.
Embora doar sangue seja uma mitsvá, o Judaísmo exige que isso não cause prejuízo significativo à saúde do doador. A Halachá equilibra a prioridade de salvar vidas com o princípio de que “sua vida vem primeiro” (Bava Metsia 62a). Ou seja, ninguém é obrigado a colocar sua saúde em risco para salvar outro, mas tem a permissão de fazê-lo, se assim escolher, desde que o risco seja mínimo e avaliado cuidadosamente.
A doação de sangue, sendo de baixo risco, é amplamente incentivada como um ato altruísta. Quando o assunto é doação de órgãos, como rins, as opiniões haláchicas variam dependendo do nível de risco envolvido. Rabinos como o Tsits Eliezer e o Rabino Moshe Feinstein abordam essas questões, destacando que, embora não seja obrigatório assumir riscos para salvar outra vida, é permitido fazê-lo em certos casos, como forma de extrema bondade e sacrifício.
O Talmud também ensina que salvar vidas pode exigir um custo financeiro. Se necessário, é uma obrigação gastar recursos para ajudar outra pessoa, mesmo que isso signifique sacrificar uma parte significativa de seus bens. Alguns, como o Chafets Chaim, sugerem que todo o dinheiro pode ser gasto para salvar uma vida, enquanto outros, como o Rabino Yossef Shalom Elyashev, limitam esse gasto a um quinto das posses de uma pessoa.
Na prática, a doação de sangue é uma das formas mais diretas e acessíveis de cumprir o mandamento de salvar vidas. É uma contribuição altruísta, que não apenas ajuda pacientes em emergências médicas, mas também simboliza o compromisso judaico com o bem-estar comunitário.
A Halachá nos ensina que a indiferença perante o sofrimento ou perigo do próximo é inaceitável. Em um mundo onde pequenas ações podem ter um impacto enorme, a doação de sangue é um ato que encapsula os valores judaicos de caridade, responsabilidade e proteção da vida. É, acima de tudo, uma maneira prática e sagrada de viver o mandamento de “amar o próximo como a si mesmo”.
Seja ao doar sangue ou ao ajudar de outras formas, o Judaísmo nos lembra que salvar uma vida é como salvar o mundo inteiro (San’hedrin 37a).