Yeshua cresceu na região da Galiléia, onde a influência de Beit Hillel era predominante. Seus ensinos mostram a compaixão, espiritualidade e abertura típicas dessa escola, enquanto suas críticas aos fariseus muitas vezes se alinhavam aos embates existentes entre Beit Hillel e Beit Shammai. Muitos dos fariseus que confrontavam Yeshua provavelmente eram seguidores de Shammai, representando uma visão mais estrita da lei.
Gamaliel, neto de Hillel e figura de destaque no Sanhedrin, desempenhou um papel crucial ao preservar um espírito de tolerância nas disputas religiosas da época. Ele defendeu uma abordagem moderada e influenciou profundamente seu aluno mais famoso, Paulo (Shaul de Tarso). Paulo, educado sob Gamaliel, levou muitos dos princípios de Hillel para sua prática e pregação, especialmente em relação à inclusão dos gentios convertidos.
Essa interação entre as escolas rabínicas, Yeshua, Gamaliel e Paulo reflete a riqueza e complexidade do judaísmo do primeiro século, destacando como as tradições e debates da época moldaram não apenas o pensamento judaico, mas também o desenvolvimento do cristianismo posteriormente.
Voltando um pouco às origens dessa época, Hillel nasceu na Babilônia e mudou-se para Yehudá aos 14 anos. Descendente da linhagem de Davi por parte de sua mãe, ele era conhecido por sua paciência, bondade e compaixão. Hillel foi um pioneiro na formulação das halachot (leis judaicas) e promoveu uma interpretação da Torá que unia obediência legal com uma conexão espiritual profunda. Ele enfatizava o relacionamento direto entre Deus e o homem, algo revolucionário em sua época.
Sua escola, Beit Hillel, era caracterizada por uma abordagem mais leniente e inclusiva, sendo a única a ensinar a Torá também para não judeus. Entre suas máximas mais famosas está: “Aquilo que você não quer para você, não faça ao próximo, esta é toda a Torá; o resto é comentário. Vá e estude” (Shabat 31a).
Hillel também exerceu influência política, desenvolvendo leis que preservaram a economia judaica em tempos desafiadores. Sua visão humanista ecoa em muitos dos ensinos de Yeshua, especialmente na chamada “Regra de Ouro”: “Tudo o que desejarem que os outros lhes façam, façam também a eles; pois esta é a Torá e os Profetas” (Mateus 7:12).
Em contraste, Shammai era conhecido por sua rigidez e zelo pela tradição. Sua interpretação da Torá era caracterizada por uma adesão estrita às leis, sem concessões. Como líder do Sanhedrin após a morte de Hillel, Shammai influenciou fortemente a política e a prática religiosa, especialmente em Jerusalém, onde sua escola tinha maior predominância.
Apesar de sua abordagem radical, Shammai também era movido por um profundo amor à Torá e ao povo judeu. Seus alunos, reconhecidos pela austeridade, frequentemente entravam em conflito com os seguidores de Beit Hillel. O Talmud enfatiza a necessidade de seguir o exemplo de paciência de Hillel e evitar a impaciência de Shammai (Shabat 30b).
Hillel e Shammai foram ambos alunos de Shemaya e Avtalyon, mas suas diferenças ideológicas levaram à formação de duas escolas, Beit Hillel e Beit Shammai. Enquanto a primeira defendia interpretações mais flexíveis e acessíveis, a segunda mantinha uma postura mais rigorosa. Essas divergências resultaram em mais de 300 debates registrados no Talmud, refletindo um período de intensa discussão teológica e social.
O impacto dessas disputas era tão profundo que chegou a dividir comunidades judaicas, incluindo questões relacionadas a casamentos e interações sociais. No entanto, o Talmud reconhece a importância da coexistência entre as duas correntes (Yevamot 14b).